quarta-feira, 4 de julho de 2012

Rosa do passado

   Eu estava deitado em minha cama, imóvel , como quem teve um parente morto a pouco tempo. Não sei o que me fez entrar nesse estado, só sei que foi horrível. Não conseguia pensar em nada, minha mente estava bloqueada. Só queria morrer.
   Aproximadamente 10 minutos depois a campainha do apartamento tocou. Hesitei e continuei no meu canto. Porém ela voltou a tocar... inúmeras vezes. Fiquei um pouco irritado, então fui abrir a maldita porta.
   Abri.
   Não havia ninguém, somente um buquê de flores que fora colocado cuidadosamente em cima do tapete da porta. Junto dele havia uma carta.
   Curioso, decidi pegar tudo e levar para dentro do apartamento. Senti o cheiro das flores. Rosas brancas, minhas favoritas. Como alguém poderia saber?
   Talvez a resposta estivesse na carta. Talvez.
   Abri o pequeno envelope com cuidado e retirei um papel que dizia: "Me encontre no Canto dos Pássaros amanhã, da 12, às 16 horas". Não havia remetente, somente aquilo e meu nome no final com uma belíssima caligrafia. De quem seria?
   Não sabia se podia confiar numa carta dessas, porém a letra, o cheiro e principalmente a data me lembravam algo bom, traziam confiança.
   Coloquei as rosas em um vaso e guardei a carta.
   No dia seguinte eu acordei às 10 da manhã, como sempre. Costumo dormir mais do que o esperado para a minha idade, mas é que eu gosto disso.
   Enfim...
   O dia seria longo, porém não poderia esquecer... "Canto dos Pássaros"... "16 horas"... Tentei me acalmar um pouco. Não sei porque meu coração batia tão forte, porque essa ansiedade extrema. Só parecia que algo bom viria.
   A tarde foi passando, junto com a minha animação. O tédio me consumia.
   Pronto, eram '15:30' no meu relógio. Decidi sair de casa, por mais que o parque fosse perto. Eu daria uma volta, analisaria as pessoas, tentaria me acalmar.
   Alguns minutos depois eu cheguei no Canto dos Pássaros. Parque mais bonito não há. Cheio de árvores e flores, perfeito para pombinhos apaixonados. O que não era o meu caso. E, após uma caminhada, comprei um sorvete e sentei em um banco. De repente, um homem alto, de cabelos compridos e bem vestido sentou-se ao meu lado. Tudo bem.
   Ou não.
   Ele se virou para mim, colocou a mão em meu rosto e me deu um caloroso beijo. Um beijo que me era familiar. Porém eu me afastei e pedi explicações:
   - Por quê fez isso?! E quem é você pra sair beijando qualquer um?! Principalmente um homem, como você!
   - Não se lembra de mim, Hiroki-san? - ele aproximou seus lábios do meu ouvido- Não se lembra dos belos dias que passamos juntos? - sussurou.
   Eu fiquei imóvel. Comecei a lembrar.
   Ele era meu colega de quarto na faculdade. Bom... era mais que um colega de quarto. Era mais que um melhor amigo. Ele era, definitivamente, tudo para mim.
   Sempre que eu entrava naquele quarto ele estava me esperando... esperando para fazermos tudo que vinha à mente. Eu o amava.
   Porém, certo dia, quando eu voltei para o quarto ele não estava lá. Só havia uma cartinha em cima de sua cama, onde ele me esperava, acompanhada de uma bela rosa branca.
   Sim, as lágrimas logo brotaram dos meus olhos, mesmo não sabendo o conteúdo da carta. Respirei fundo e fechei os olhos por alguns segundos.
   Voltei para a realidade. Maldita seja a realidade. Peguei a carta com cuidado e a abri. Nela estava escrito o seguinte texto (que eu guardo até hoje):
   "Sinto muito. Sinto muito se te abandonei... Se te aborreci. Se te feri. Só quero que seja feliz.
   Mas... eu não tive escolha. A saúde da minha mãe está precária e ela precisa de mim. Porém sua doença é contagiosa e somente médicos especialistas podem se aproximar e tratar dela. Ela só precisa do dinheiro. E esse dinheiro eu consegui após entrar para o exército. Você não ficou sabendo de nada... não queria lhe preocupar. Agora servirei o país, a pátria. Salvarei a vida de muitas pessoas, inclusive da minha mãe. Só não sei se a minha será poupada... sinto muito.
   Eu te amo, Hiroki... Adeus."
   A esse ponto eu já estava chorando litros e mais mares. Não aguentava a dor de o perder. Meu primeiro amor.
   Cheguei a pegar uma faca e quanto estava prestes a fincá-la em meu peito, uma garota que estava no corredor me interrompeu e me acalmou.
   O tempo foi passando. Eu não havia o esquecido, porém a dor já não palpitava com tamanha intensidade. Pensei que nunca mais o veria. Porém aqui estava ele, bem à minha frente. Não pude aguentar a emoção. O abracei e comecei a chorar. E então ele me abraçou de volta, acariciando minha cabeça.
   Aquelas mãos... grandes, quentes e acolhedoras. Porém agora com algumas características a mais: fortes e protetoras.
   Eu realmente não podia acreditar naquilo. Um antigo amor de volta, finalmente. Confesso que sempre esperei por esse dia... pensava que só estava me iludindo, mas agora é real. Então ele interrompeu meus pensamentos, colocou sua mão quente em minha face, olhou bem nos meus olhos e disse:
   - Sinto muito por ter te abandonado. Sinto muito por ter te aborrecido. Espero que você perdoe um coração tão frio quanto o meu. Mas quando eu penso em você ele se aquece, se enche de vida. Você é a minha vida... e eu nunca mais quero te perder. Não vou te abandonar. É uma promessa... que eu cumprirei. Eu te amo.
   E então ele me abraçou novamente e ficamos assim por um bom tempo. Depois ele me levou para casa.
   Acho que nunca fiquei tão feliz na vida e agora eu sei que a rosa branca do nosso amor nunca murchará.

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